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Documento do Mês (AH) – Março

Comunicação de António José Viale, Vice-Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, à Classe de Letras, 11 de março de 1852.

– Carta manuscrita com instruções para a continuação do Diccionario da Lingoa Portugueza, relevando a importância de tal projeto, iniciado em 1793 com a publicação do primeiro e único volume.

 

Data de 1793 a publicação do primeiro e único tomo do Diccionario da Lingoa Portugueza, projeto conduzido por uma comissão extraordinária de académicos, constituída em assembleia particular de 28 de junho de 1780, e liderada por Pedro José da Fonseca (1736-1816), acompanhado por Agostinho José da Costa de Macedo (1745-1822) e Bartolomeu Inácio Jorge. Esta obra foi o primeiro resultado do esforço literário preconizado desde a fundação da Academia das Ciências de Lisboa (ACL) em prol do fomento e enriquecimento do léxico da Língua Portuguesa.
Decorreram, no entanto, quase dois séculos até à publicação de um novo Dicionário da Língua Portuguesa, em 1976, que igualmente não avançou além do primeiro volume. Durante esse período, somaram-se os apelos à Academia no sentido de dar continuidade ao trabalho iniciado pelos sócios fundadores. Foi nesse contexto que António José Viale (1806-1889), Vice-Presidente da ACL, interpelou os seus consócios em comunicação à Classe de Letras, à qual pertencera, desta resultando o manuscrito datado de 11 de março de 1852, agora divulgado como “Documento do Mês” de março.
Dirigindo-se aos sócios da classe, António José Viale apresenta uma proposta de avanço com instruções para a continuação do Dicionário que o próprio François Guizot (1787-1874) “não duvidou de preconizá-lo como modelo em que até a Academia Franceza muito acharia que imitar”, evocando outros exemplos de academias congéneres europeias. Assim, na esperança de reunir entusiasmo junto dos académicos e apoio financeiro da instituição, o autor ressalva que “huma empreza de tão transcendente utilidade litteraria, e cujo desempenho muito pode contribuir para o credito da illustre Sociedade a que temos a honra de pertencer”. Assistimos, deste modo, não só a uma tentativa de promoção da investigação científico-literária, como a um ato simbólico do interesse dos membros em participar como intervenientes ativos nos trabalhos da ACL.
No Fundo Geral do Arquivo Histórico da ACL conservam-se vários registos que testemunham os trabalhos da comissão de 1780, como apontamentos, correspondência, instruções e verbetes. Constam ainda no catálogo da Biblioteca a primeira edição do Diccionario da Lingoa Portugueza (1793), bem como o Dicionário da Língua Portuguesa (1976) e a reprodução facsimilada comemorativa do 2º Centenário do primeiro, na qual João Malaca Casteleiro acrescenta ainda um estudo linguístico (1993).
O legado filológico e lexicográfico dos dicionários publicados pela ACL vê-se continuado no Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa (ILLLP), fundado com o objectivo de promover o enriquecimento do léxico da língua portuguesa, firmando a Academia como órgão consultivo do Governo em matéria linguística.

 

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