A Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (ACL) concluiu recentemente a catalogação integral do legado bibliográfico de Francisco Maria Esteves Pereira (1854-1924), uma preciosa coleção de obras especializadas em estudos orientais, incidindo particularmente sobre línguas e culturas semíticas. A coleção é constituída por cerca de 600 obras, das quais quatro dezenas são “Livro Antigo”. A maioria dos espécimes integra a coleção com prefixo de cota “Esteves Pereira”, havendo alguns outros sido alocados às coleções com prefixo de cota “Reservado”, “Cofre” e “Manuscritos azuis”.
Destacamos três cimélios desta coleção:
- Psalterium David et cantica aliqua in lingua Chaldea, in 8º dado à estampa em Roma em 1513 e considerado pelos bibliólogos como o primeiro livro a ser impresso em ge’ez;
- Os elementos de Euclides, edição com acrescentos de Teão e comentários de Proclo, in 2º impresso em Basileia em 1533. No rosto destacam-se a marca do impressor e, na primeira página, a cercadura com motivos fitomórficos, zoomórficos e antropomórficos.
- Kebra nagast (Glória dos reis), em cópia manuscrita integralmente em ge’ez, com texto a negro e vermelho copiado pelo debtera Kenpêe, natural de Godjam, e oferecido em 1897 a Esteves Pereira.
Francisco Maria Esteves Pereira nasceu em Miranda do Douro a 9 de agosto de 1854 e faleceu em Lisboa a 9 de dezembro de 1924. Engenheiro de formação e militar de carreira, tornou-se um eminente orientalista, especializando-se em línguas semíticas, com destaque para o etiópico clássico (ge’ez) e na história e cultura do cristianismo oriental. Foi, entre outras agremiações científicas, sócio da Société Asiatique de Paris, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Academia das Ciências de Lisboa, sendo esta última a fiel depositária do seu legado bibliográfico.
Todas as obras que formam o legado Esteves Pereira estão agora representadas, e assim mais acessíveis, a par de muitas outras, no catálogo online da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa. Com a conclusão deste projeto de catalogação, a ACL dá mais um passo no cumprimento da sua missão de preservar e a valorizar o património cultural que lhe está confiado e de promover o conhecimento.
