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Destaque do Museu | Falsos ídolos de divindade

No contexto da celebração do tricentenário do seu nascimento, a Academia das Ciências de Lisboa presta homenagem a Frei Manuel do Cenáculo Villas-Boas (1724-1815). Provincial da Ordem Terceira de São Francisco e sócio da Academia, destacou-se como um ávido colecionador de obras literárias, antiguidades e um fervoroso defensor do conhecimento público.


Entre as suas múltiplas contribuições inclui-se a fundação de diversas bibliotecas em todo o país, incluindo a construção da Livraria do Convento da Nossa Senhora de Jesus – espaço atualmente conhecido como Salão Nobre – para a qual doou milhares de livros da sua coleção pessoal. Envolvido neste cenário característico da ilustração, Frei Manuel do Cenáculo incentivou ainda a criação de gabinetes de antiguidades, visando utilizar a cultura material como um meio de inspiração e aprendizagem. Estes gabinetes, especializados em objetos antigos como moedas, medalhas e peças arqueológicas, estavam frequentemente associados a bibliotecas para facilitar o seu estudo.


Nas coleções do Museu da Academia das Ciências de Lisboa existe um conjunto de objetos que se assume terem pertencido às coleções do religioso. Exemplo são os dois objetos de terracota, cujas características técnicas, iconográficas e epigráficas – como os carateres tartéssios “inventados” na inscrição – indica tratar-se de falsos, que pretendiam passar por ídolos pré-romanos. No entanto, o objetivo destas peças não era de natureza mercantilista, mas de ilustrar categorias de objetos suscetíveis de poderem idealizar produções autênticas, mas que não estavam disponíveis na Academia. Ambos são datáveis, muito provavelmente do último quartel do século XVIII, uma vez que refletem o interesse suscitado pelos estudos pioneiros sobre epigrafia tartéssica, empreendidos nesses anos por Manuel do Cenáculo, conforme documentado pelo seu famoso Álbum Cenáculo. Esta ideia é reforçada pelas semelhanças apresentadas entre algumas peças falsas dos gabinetes de antiguidades da Real Academia das Ciências de Lisboa, da Real Biblioteca Pública da Corte e do Reino, da Biblioteca do seu Palácio Episcoal de Beja e da Biblioteca de Évora, que acabaram no Museu de Évora.


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